quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

A minha Avó foi novamente hospitalizada. Tornou-se uma rotina macabra. De vez em quando lá se fica com o coração nas mãos. Mas ela é rija. E tem regressado sempre a casa. Nestas alturas lembro-me especialmente do meu Avô Joaquim. O Vô Quincas.
Fui o seu primeiro neto. Ainda por cima rapaz. Por isso especial. Amava as suas duas filhas. Mas eu era o filho que nunca teve.
Era um verdadeiro chefe de família. Mantinha-a unida. Todos os Domingos, almoço em sua casa. Filhas, genros e netos. Férias todos juntos na casa do Vimeiro. Verões inteiros.
Tinha um pequeno negócio de revenda de móveis. O escritório era na Rua dos Anjos ao Intendente. Essa mesmo. A rua das ‘meninas’. Quando não tinha aulas era para lá que ia. Fazia-me moço de recados. Ia ao talho, à mercearia e até ao Banco. Com molhos de cheques para depositar e formulário devidamente preenchido. Ainda me lembro de caminhar pela Rua dos Anjos, envelope com cheques na mão e derrepente ouvir ‘oh franguinho, anda cá que te vou ensinar uma coisa’. Nunca parei. Ainda hoje estou curioso. Imaginem o espanto dos caixas, ao me verem tão novinho a depositar quantias avultadas em cheques.
Nos tempos mortos ia ter com o Sr. Zé, o marceneiro. Serrava, pregava e colava como se não houvesse amanhã. Até nova tarefa me ser atribuida.
Aos clientes apresentava-me como seu secretário. Na casa do Vimeiro era o seu encarregado. Às 6ª feiras, almoço em Odivelas com os empregados do armazém. Aliás, almoços e jantares eram o seu forte. Tinha prazer em comer. Muito e bem. Costumava dizer ‘antes faça mal, que sobre’. Nem sei como me aguentei assim.Magrinho.
De vez enquando, em tempo de aulas, fazia-me uma surpresa. Aparecia à porta da escola, na sua Peugeot 504. Lá iamos todos. Eu e colegas. Distribuição porta a porta.
Lembro-me especialmente de um fim de semana. Eu já adolescente, recusei o convite para ir ao Vimeiro. Era normal lá ir com ele. Tratar da casa e das árvores de fruto. Naquele não fui. Fui ver Brian Adams com amigos ao Estádio de Alvalade.
Quando cheguei a casa deram-me a noticia. O meu avô tinha morrido. Coração.
Carreguei o caixão. Como seu filho. Mas nunca chorei. Senti a perda. Mas não chorei. Como me arrependo. Do fim de semana. E de não ter chorado.
Tenho-o sempre comigo. Acredito que esteja ele onde estiver, olha por mim. È o meu Anjo da Guarda. Sei que está bem. Nunca lho disse. Digo-lhe hoje. Sinto muito a tua falta Vô…

2 comentários:

Carla disse...

os avôs, esses grandes pilares!

também tenho um avô desses no meu coração!

Anónimo disse...

desculpa, mas vou aproveitar o "teu espaço", que me tocou profundamente, para deixar também um tributo a quem sei que olha por mim lá no céu. AVÓ,OBRIGADA POR OLHARES SEMPRE POR MIM.
Margarida.